Clima e Floresta Tropical – Documento de posicionamento de “Salve a Floresta”

Tucano gigante em um galho na floresta tropical América do Sul: Tucano gigante em um galho na floresta tropical (© Konrad Wothe)

Florestas tropicais, além de serem ecossistemas complexos de alta biodiversidade, são também espaços de vida para milhões de pessoas. Essas florestas são componentes centrais do sistema climático local e global, exercendo um papel-chave na proteção do clima.

As florestas tropicais, cada vez menos, estão conseguindo realizar a sua função de estabilizadoras do clima. Em decorrência de sua destruição - dando lugar a monoculturas industriais, pastos ou áreas de mineração - a sua função de armazenar e reduzir carbono fica perdida. Em seu lugar, as áreas de florestas tropicais acabam se tornando fontes emissoras de gases de efeito estufa. Em especial, os incêndios florestais e a utilização das áreas devastadas, por exemplo, para pasto de gado bovino, causam emissões de dióxido de carbono e de metano. Especialmente pavorosos estão se mostrando os efeitos da destruição das florestas de turfa.

Do total de 18 dos chamados “pontos de não-retorno” no sistema climático global, dois afetam diretamente as florestas tropicais, quais sejam: as florestas da Amazônia e o deslocamento das monções da África Ocidental.

O projeto de proteger o clima sem  considerar a proteção das florestas tropicais está fadado ao fracasso.

A perda da biodiversidade e a catástrofe climática são crises existenciais.

Estamos sendo confrontados, ao mesmo tempo, por duas crises ecológicas existenciais, ambas causadas pelo nosso próprio modo de viver e produzir economicamente, quais sejam: a catástrofe climática e a extinção das espécies animais e vegetais. Conforme o Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima (IPCC) - órgão das Nações Unidas encarregado de analisar a crise climática - 30% de todas as espécies poderão ser extintas, se o clima global da Terra apresentar um aquecimento de 1,5° a 2,5°C. Além disso, a perda da biodiversidade pode agravar a catástrofe climática, como, por exemplo, é o caso do "ponto de não-retorno" nas florestas da Amazônia.

Reivindicações de “Salve a Floresta” quanto à proteção do clima

Nós precisamos combater a perda da biodiversidade e a catástrofe climática ao mesmo tempo. É perigoso pensar que uma das crises seja mais importante e mais urgente que a outra. A proteção do clima não pode ser inflexível, de forma a relegar a proteção das espécies para um segundo plano. Ambas precisam andar de mãos dadas, ainda que, na prática, a proteção das espécies e do clima não seja feita da mesma forma ou até mesmo possam se contrapor.

Nós precisamos mudar, fundamentalmente, o nosso modo de viver e a nossa economia: abaixo a obsessão pelo crescimento econômico, ao consumo exagerado e lógica de exploração da natureza. Precisamos reduzir o nosso consumo de energia, de alimentação e de matérias-primas, em vez de mantê-lo por meio de artifícios como “produtos verdes”, modelos offset e conceitos como gasto ou carbono líquido zero. Não podemos nos deixar deslumbrar por tecnologias futuras que se apresentam como solucionadoras de problemas. Necessário é o decrescimento, e não o crescimento verde.

Não podemos fazer da proteção do clima, simplesmente, um grande negócio. Florestas não são mercadorias, CO2 não é uma moeda.

Precisamos sair da dependência de energias fósseis. Biomassa e biocombustíveis são, frequentemente, a solução errada. Não se deve permitir novos projetos que meramente dêem continuidade ao consumo de energias fósseis, como, por exemplo, a reconstrução de usinas termoelétricas, a exploração de novos campos e minas de petróleo e a construção de pipelines. Biocombustíveis feitos a partir de óleo de palma, soja, cana-de-açúcar, etc., não são solução alguma. Florestas não são material de combustão para usinas termoelétricas.

Precisamos preservar as florestas e a natureza, além de remediar os danos já consumados. Como isso vai funcionar, não é uma questão trivial. Plantar árvores ao acaso, apenas para quebrar recordes, também não é solução alguma. Assim é que savanas, por exemplo, não são áreas “desflorestadas”, mas sim ecossistemas valiosos, adaptados às condições locais. Além disso, precisamos entender as florestas como ecossistemas e habitats multifacetados - o que é muito mais do que um mero armazém de carbono. A plantação de árvores, em conseqüência, tem de ter um valor ecológico que vá além da simples proteção climática. Já por isso, exclui-se a monocultura de árvores - as quais não passam de fake forests, e que, como meras fornecedoras de madeira que são, são derrubadas e aproveitadas dentro de poucas décadas.

A proteção do clima precisa ser justa - não devendo ser feita jamais em prejuízo dos direitos humanos. Nós precisamos assegurar e fortalecer os direitos dos povos indígenas, os quais, em regra, são os melhores protetores das florestas. Frequentemente, povos indígenas foram - e ainda são - expulsos de suas terras ou são lesados em seus direitos porque suas terras tradicionais são transformadas em áreas de proteção, ou para reflorestar áreas supostamente degradadas ou ainda, para criar recursos para a criação de “produtos verdes”.

Precisamos moldar a proteção do clima de forma justa - considerando os países, os grupos populacionais, sexos e gerações. Os responsáveis pela catástrofe climática são, sobretudo, os países industrializados - ricos - seja do ponto de vista histórico, seja hoje, considerando o consumo per capita. Quem sofre, por outro lado, são as pessoas que vivem nos países pobres - as nações do Sul Global, que contribuíram - e ainda hoje contribuem pouco para essa evolução catastrófica, e que, ademais, dispõem de menos recursos para a luta contra a catástrofe climática e suas conseqüências.

Por conta disso, a nossa obrigação de reduzir o consumo do meio-ambiente e de apoiar as suas vítimas é maior do que a deles.

Nós precisamos de leis, regulamentos e acordos mais rígidos. Ajustes voluntários ou “pledges” de empresas ou países, frequentemente, não são cumpridos, ou às vezes, até chegam a servir de “greenwashing”. A responsabilidade pelas decisões em prol do clima e dos recursos naturais não pode ser simplesmente transferidas para o indivíduo, por meio de slogans, selos e certificados.

Precisamos moldar a economia e a sociedade pós-pandemia de maneira concertada com o meio-ambiente. Não se pode permitir que haja um programa conjuntural com as velhas receitas de sempre. Ao mesmo tempo, a Covid já nos mostrou que somos capazes de produzir mudanças rápidas e profundas, quando se trata de uma crise existencial.

Ações recentes ao assunto

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Manada de zebras cercada por pradarias amarelas Em savanas - como nesta foto na Tanzânia - não há árvores - ou há pouquíssimas. (© RdR/Mathias Rittgerott)

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Árvores são salvadoras do clima. Portanto, conservá-las ou recuperá-las é necessário. No entanto, muitos projetos mais prejudicam que aproveitam o clima. Ecologicamente prejudicial é reflorestar pradarias como savanas. Reclame do governo alemão a conservação das florestas existentes, em vez de fomentar reflorestamentos equivocados

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Para: Governo federal da Alemanha e outros participantes da AFR100

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